MATÉRIA ATUALIZADA ATÉ DIA 24 DE FEVEREIRO DE 2015 *
TERÇA-FEIRA
FUTSAL:
INDICADOS PARA MELHOR DO MUNDO
BACH ESTREITA RELAÇÕES COM LIGAS E ABRE AS PORTAS PARA TESTAR O
FUTSAL EM 2018
- Além do fortalecimento das
relações com ligas profissionais, presidente do COI fala sobre outros temas da
Agenda 2020, como candidaturas, eventos mistos e doping
- Por anos o futsal esteve em
pauta, mas qualquer tipo de clamor era abafado pela incompatibilidade de
interesses entre o Comitê Olímpico Internacional (COI) e a Fifa. Com a
implementação da Agenda 2020, no entanto, o esporte de salão pode finalmente vislumbrar
o sonhado espaço no programa dos Jogos em um futuro próximo. Disposto a honrar
um dos 40 itens da lista que promete revolucionar o movimento olímpico, Thomas
Bach tem intensificado as relações entre o COI e várias ligas profissionais, e
finalmente sinalizou uma abertura para que o futsal seja integrado ao maior
evento multiesportivo do planeta.
- Talvez tenhamos a
oportunidade de testar o futsal em Buenos Aires em 2018 (Jogos Olímpicos da
Juventude). Vamos ver, estamos discutindo - disse o presidente, que está no Rio
de Janeiro para acompanhar o andamento das obras para 2016.
- As relações entre a entidade
olímpica e a Fifa, que assumiu o controle do futsal em 1989, sempre foram um
empecilho para que a modalidade se tornasse olímpica. Um dos pré-requisitos
seria o limite máximo de 23 anos de idade aos jogadores, assim como acontece no
futebol de campo (apenas três atletas podem exceder esse limite). Outra
exigência seria de que os mundiais de salão deixassem de ser realizados nos
anos das Olimpíadas. A Fifa, no entanto, não aceita.
- Como o Brasil é o maior
vencedor do futsal mundial com sete títulos, dirigentes da Fifa se uniram à
Confederação Brasileira (CBFS) em busca deste espaço para a modalidade nos
Jogos do Rio de Janeiro. Em uma última cartada para tentar integrar o programa
olímpico de 2016, em 2012, o astro Falcão foi nomeado embaixador do esporte
para ajudar no lobby, mas o COI manteve-se irredutível.
- Na gestão na Thomas Bach,
porém, o assunto voltou à pauta. Um dos 40 tópicos da Agenda 2020 menciona a
importância de aproximar as relações com ligas profissionais. E a Fifa não
escapa a essa nova visão do COI. Em seu objetivo de fortalecer contatos, o dirigente
alemão tem conversado ainda com figuras importantes da NBA, NHL e até da NFL,
embora o futebol americano não seja olímpico. Ele inclusive esteve no último
SuperBowl, que aconteceu em fevereiro nos Estados Unidos.
CONFIRA NA ENTREVISTA ABAIXO OUTRAS
MUDANÇAS À VISTA COM BASE NA AGENDA 2020
GLOBOESPORTE.COM: Quais
dos 40 itens o senhor acredita ser o mais importante para essa revolução do
COI?
THOMAS BACH: Todos são
importantes porque essa agenda é como um quebra-cabeças, não dá para tirar um
dos itens sem interferir no restante. São todos muito importantes porque são
sobre assegurar o sucesso futuro das Olimpíadas, sobre fortalecer o papel do
esporte na sociedade. E para isso é preciso se abrir para a sociedade, mudar o
sistema de candidatura, promover o bom uso das Olimpíadas... É muito difícil
escolher muito.
- Um desses pontos fala sobre
o fortalecimento das relações com as ligas profissionais. Nas últimas duas
Olimpíadas os fãs puderam ver estrelas da NBA e da NHL em ação. O senhor
acredita que essa relação atingiu um nível ideal ou ainda precisa de uma
aproximação maior?
- Acho que em toda relação o
que se precisa é um bom diálogo, e isso é o que estamos fazendo. Recentemente
encontramos com o comissário da NBA, eu encontrei Donald Fehr, da União dos
jogadores da NHL, encontrei o comissário da NFL, mesmo que não seja um esporte
olímpico, para discutir e entender os interesses e necessidades deles. Estou
muito otimista sobre este diálogo, estou muito confiante que no Rio vocês vão
ver grandes jogadores da NBA dando seu melhor no Rio.
- E como é essa relação entre
o COI e a Fifa? Aqui no Brasil há sempre discussão sobre o limite de idade no
futebol e sobre uma possível inclusão do futsal no programa olímpico...
- Com a Fifa temos o
compromisso desse limite de idade com a exceção de três jogadores acima de 23
anos e, de fato, o desenvolvimento dinâmico do futebol nos ajuda, já que hoje
em dia a média de idade dos times é mais baixa do que há alguns anos. Você vai
ver quase todos os atletas em grandes times. Trabalhamos com base neste
compromisso. E em relação ao futsal, podemos ter a oportunidade de testá-lo nos
Jogos Olímpicos da Juventude.
JÁ NOS PRÓXIMOS?
- Talvez tenhamos a
oportunidade de testar o futsal em Buenos Aires em 2018. Vamos ver, estamos
discutindo.
- A Agenda também fala sobre
“honrar os atletas limpos”. Nas últimas três Olimpíadas o número de casos de
doping foi muito maior do que dos Jogos de Barcelona aos de Sydney.
Paralelamente a isso, houve recentemente uma grave denúncia sobre fraude de
exames na Rússia. O COI tem medo que essa média se mantenha alta no Rio?
Cada caso mostra que o sistema
está funcionando. O sistema antidoping melhorou muito nos últimos anos, houve
muito progresso nas pesquisas. Nesse meio tempo estabelecemos o sistema de
controle sanguíneo, temos em muitas federações o que chamamos de passaporte
biológico, que nos permite seguir os atletas e acompanhar as mudanças em seu
sangue. Houve muito progresso, mas não há razão para ser complacente. Por isso o
COI está agora fazendo um esforço grande para proteger os atletas limpos da
manipulação e da corrupção. Estabelecemos um fundo adicional de US$ 20 milhões
para investir em pesquisa na luta contra o doping.
- A Agenda visa Jogos futuros,
mas quais dos 40 itens podem ser postos em prática já nessas Olimpíadas no Rio?
Acho que o mais importante é
que a tradição dos Jogos tem que refletir a cultura do país sede. Isso é o que
queremos respeitar mais no processo de candidatura. No passado nós pedíamos
condições muito específicas. Agora no futuro queremos perguntar aos candidatos
como eles acham que as Olimpíadas se encaixariam melhor nas condições sociais,
ecológicas e financeiras deles. Temos o grande exemplo do Rio, vamos ver
Olimpíadas com o entusiasmo brasileiro, com o gosto brasileiro pelo esporte,
com a hospitalidade e o calor dos brasileiros. Os Jogos aqui podem mandar essa
mensagem positiva para os possíveis futuros organizadores.
- O senhor fala em colocar
eventos mistos nos Jogos. Como isso poderia ser feito?
- Nós queremos encorajar a
participação feminina. Estamos perto de alcançar a marca de 50% / 50% de
participação na divisão entre homens e mulheres. Ainda não chegamos lá, e isso
significa que precisamos encorajar a participação feminina, assim como a participação
de países pequenos. Um dos meios é ter mais eventos mistos, que permitiriam que
países menores ou em desenvolvimento tivessem times e não só participassem, mas
também atingissem as finais e talvez até de ganhassem medalhas.
- O senhor acha que o país
sede deveria ter maior influência na lista de esportes do programa olímpico?
Definitivamente queremos ser
mais flexíveis, e a Agenda 2020 está oferecendo para as futuras sedes que
proponham ao COI para incluir um ou até mais eventos no programa nos Jogos
deles para que a cultura esportiva deles seja refletida da melhor maneira
possível.
- Como um fã de esporte, qual
evento o senhor aguarda com maior ansiedade em 2016? Não vale a esgrima...
- Ahhh... Não vale a esgrima?
(risos) Há dois pontos. O primeiro é que o mais fascinante dos Jogos é a
diversidade. A diversidade de todos os 205 comitê olímpicos e atletas de todo o
mundo em um só lugar, em uma vila. Há também uma grande variedade de esportes,
e essa é uma grande vantagem de ser presidente do COI. Você pode ver esgrima de
manhã, ir para o boxe, para o atletismo e ver alguma canoagem no mesmo dia. A
competição mais significativa dos Jogos você só sabe depois que os Jogos
terminam. Os Jogos não estão aí para celebrarem as estrelas, os Jogos são o
local onde as estrelas nascem. Você só sabe quando terminam qual evento foi o
mais emocionante para as pessoas.
Fonte: globo.com