MATÉRIA
ATUALIZADA ATÉ DIA 18 DE FEVEREIRO DE 2015 * QUARTA-FEIRA DE CINZAS
MMA: ANDERSON SILVA PODERÁ VOLTAR
DOPING DUPLO ACABA COM
CHANCE DE INOCÊNCIA, MAS ANDERSON PODE TER SOBREVIDA
- Ser flagrado em um teste antidoping já foi um baque para Anderson
Silva. Mas a confirmação de um segundo exame positivo, sendo reincidente no uso
de uma das substâncias e acrescentando ansiolíticos à lista de drogas ilegais
em seu organismo, tem tudo para enterrar qualquer chance de defesa do
ex-campeão dos médios do UFC. Diante de um quadro tão complicado, pode ser o
fim do Spider como lutador, mas o desenrolar novo de fatos esclareceu alguns
pontos e deve até auxiliar o brasileiro a deixar sua imagem com menos
arranhões.
- Na terça-feira(17), a Comissão Atlética de Nevada (NSAC) confirmou que,
além de ter sido pego em um antidoping surpresa em 9 de janeiro – com os
anabólicos drostanolona e androsterona -, Anderson foi flagrado no dia do
combate. Agora, ele teve encontrada a mesma drostanolona e ainda dois
ansiolíticos, medicações para dormir, oxazepam e temazepam. O peso médio foi
suspenso preventivamente, até seu julgamento.
Você acha que Anderson Silva deve se aposentar?
RESULTADO PARCIAL
- O maior problema para Anderson é a reincidência no uso da drostanolona,
um anabolizante muito utilizado por fisiculturistas, que melhora a qualidade
muscular e dá mais força. A substância poderia ter sido usada para ajudar na
recuperação da perna fraturada contra Chris Weidman, ou para incrementar a
condição física em geral do lutador.
- Ser testado duas vezes para a mesma substância neste prazo de cerca de
20 dias indica que o brasileiro teve a entrada da drostanolona, de fato, duas
vezes em seu organismo, já que o anabolizante tem vida curta e pode desaparecer
em uma semana.
- O comentário de Bob Bennet, presidente da Comissão Atlética de Nevada,
explica bem: “Uma coisa que particularmente me preocupa é ele ter testado
positivo em 9 de janeiro e negativo em 19 de janeiro. Se ele tomou algo
oralmente, ele fica no seu organismo de 5 a 7 dias apenas. Então, obviamente,
ele usou algo próximo de 9 de janeiro e de novo muito perto da noite da luta.
Ele testou positivo em dois de três exames, isso é certamente preocupante e
inaceitável. Isso dá vantagem injusta sobre os rivais.”
- Com este cenário, um dos caminhos para uma possível defesa de Anderson
fica impossibilitado. Um cenário possível, é claro, é a admissão de culpa. Mas,
se o brasileiro escolher negar o doping, as alegações de manipulação ou
contaminação da amostra deixariam de ter fundamento, pelo fato do resultado
mais recente também indicar a drostanolona e, como dito, ela não ficar no
organismo por tanto tempo.
- Apesar de um delito menor, a presença dos ansiolíticos também só faz
crescer as chances de a comissão aplicar uma pena pesada para o ex-campeão. A
NSAC tem um histórico de aplicar ganchos longos, principalmente em momentos-chave
da luta contra o doping, a exemplo de agora, em que se tenta ampliar os testes
surpresa. Um caso que mostra isso foi o de Wanderlei Silva, banido pela vida de
lutar MMA com licença do estado de Nevada, por fugir de um exame. Com um total
de quatro substâncias ilegais no corpo, sendo uma delas pega duas vezes,
Anderson não deve ser poupado e as estimativas de ele pegar de nove meses a um
ano de afastamento podem ser ampliadas para um prazo até maior.
UM RAIO DE SOL EM
MEIO À TEMPESTADE
- Alguns pontos levantados com este segundo positivo podem ajudar
Anderson a salvar a sua carreira. Não o futuro dela, mas a imagem de lenda que
ele criou por tantos anos. Diante do flagra no teste surpresa, a grande dúvida
foi: o uso de substâncias ilícitas é recorrente, ou foi apenas neste combate
que Anderson supostamente trapaceou?
- No MMA, assim como em outros esportes, costuma-se falar em ciclos de
doping. Lutadores usando drogas ilegais no período fora da semana de luta, e
limpando o organismo a tempo de seus combates e dos testes feitos imediatamente
antes e depois deles. Anderson ser pego não só no exame surpresa, mas também no
realizado durante o fim de semana do UFC 183 soa como um erro amador.
- Erros de ciclo não são comuns. Lutadores que fazem esse tipo de uso
sabem exatamente como burlar as regras. E, como se vê nos poucos positivos em
exames realizados nos dias de luta, não são pegos. O fato de Anderson ter
falhado pode indicar que ele não é um usuário costumeiro de doping, que ele não
usou deste tipo de artifício a vida toda.
- Já o uso dos ansiolíticos parecem outro erro absurdo. Tudo porque as
substâncias encontradas no sistema de Anderson não são ilegais segundo o
regulamento da Agência Mundial Antidoping, a Wada, que costuma ser o padrão
para os esportes no mundo. Costuma, apenas, pois neste caso a Comissão Atlética
de Nevada é quem veta seu uso.
- Anderson, sofrendo de ansiedade com a proximidade da luta, pode ter
tido prescritos os medicamentos por alguém que não tinha noção destas regras da
NSAC, e rodou mais uma vez.
- Mais ou menos culpado, errando ou tendo usado as substâncias
convictamente, uma coisa é clara: comissões e entidades reguladoras não aliviam
para casos de doping, e geralmente as penas são aplicadas de acordo com as
drogas pegas e não levando em conta outros aspectos. Aos 39 anos, Anderson deve
pegar no mínimo nove meses de suspensão, isso pensando num cenário bastante
otimista. A pena pode ser ainda maior com a sequência de flagras, e aí o
período afastado pode ser demais para um veterano tentar, pelo menos, um adeus
com dignidade em cima do octógono.
Fonte: uol/Maurício Dehò