MATÉRIA ATUALIZADA ATÉ DIA 7 DE DEZEMBRO DE
2015 – SEGUNDA-FEIRA
HANDEBOL NACIONAL – SITUAÇÃO
PÍOROU
TÉCNICO DA SELEÇÃO: HANDEBOL NO
PAÍS SÓ PIOROU APÓS CONQUISTA DO MUNDIAL
-
Um dos principais responsáveis pelo crescimento técnico que deu ao Brasil o
título mundial de 2013 no handebol feminino, Morten Soubak não é otimista ao
falar do futuro do esporte no país. Treinador da seleção desde 2009, o
dinamarquês diz que a situação da modalidade não melhorou com a conquista
histórica de dois anos atrás, na Sérvia.
"Antes,
diziam: 'Vocês vão ter algo depois de conquistarem um título'. Não é verdade. O
handebol do Brasil só piorou depois do Mundial de 2013. A Liga Nacional tem
muitos times e é muito curta. Eu não vejo clubes, cidades ou Estados investirem
no handebol. É só fala", disse o treinador, que busca o bi em seu país
natal.
-
Morten falou com a reportagem durante a preparação para o segundo jogo do
Brasil no Mundial, contra Congo (que acontece nesta segunda, às 13h, no horário
de Brasília, com acompanhamento ao vivo do Placar UOL Esporte). Na conversa, o
treinador opina sobre o handebol, as chances da sua equipe na competição e
outros aspectos do esporte no país que receberá as Olimpíadas em 2016.
CONFIRA
ABAIXO AS MELHORES RESPOSTAS DO TREINADOR
"Está
igual para todo mundo [aqui no Mundial]. E eu não vejo diferença para 2016. As
equipes que irão às Olimpíadas já estão aqui, não vão mudar. Se você der uma
olhada, em 2013 tivemos Brasil, Sérvia, Dinamarca e Polônia nas semifinais do
Mundial. Um ano depois teve o Europeu. O Brasil obviamente não disputa, mas as
quatro melhores foram Noruega, Espanha, Suécia e Montenegro. É tudo diferente.
Pode esquecer a matemática que os jornalistas gostam".
O
DIFERENCIAL DO BRASIL
"Nossa
força é o jogo coletivo e a superação. Isso pode fazer a diferença. Nós não
somos o melhor time, como também não éramos em 2013, mas temos valores que
levam a gente para frente, que criam lideranças. Conseguimos criar uma equipe
competitiva, que acredita que o Brasil pode conseguir os resultados. Nós
superamos a expectativa dos europeus. Agora eles têm um respeito diferente, a
gente sente isso. Essa equipe tem um gosto, um sabor de ganhar. Isso só faz o
time crescer. É muito legal trabalhar com uma equipe que tem esse sabor. Você
sabe no fundo que é por isso que está aqui, para vencer".
MÉTODO DE
TRABALHO
"O
primeiro objetivo era ter uma identidade. Quando eu cheguei ninguém conseguia
me explicar como jogava o Brasil, mas todo mundo da seleção sabia dizer como
jogava a seleção de futebol, ou seja, não se sabia como o próprio time jogava.
Hoje tem europeu que fala que quer jogar como a gente. É uma mudança cultural
muito grande. O handebol do Brasil era só quadra de cimentão, goteira e o
car..."
RECONHECIMENTO
E MUDANÇAS PÓS-MUNDIAL
"Não
sinto isso [de crescimento de status], eu não sei. Você mora tão longe de onde
o handebol está, que é na Europa... Mas é claro que a conquista com o Brasil
deu um reconhecimento maior. Eu não
estou aqui para ganhar status. Estou para fazer o meu melhor pelo Brasil, e não
pelo reconhecimento. Antes, diziam: 'Vocês vão ter algo depois de conquistarem
um título'. Não é verdade. O handebol do Brasil só piorou depois do Mundial de
2013.
-
A Liga Nacional tem poucos times e é muito curta. Eu não vejo clubes, cidades
ou Estados investirem no handebol. É só fala. Faltam mais lugares para a
molecada jogar. Não falo de estrutura escolar, que essa está boa, mas e aqueles
craques do Mato Grosso? De Minas Gerais? Vão para onde? Eu digo isso porque eu
venho de uma fábrica de talentos que é a Dinamarca. É uma fábrica de talentos
que a cada ano produz atletas em nível altíssimo".
COMO
MELHORAR O CENÁRIO?
"Tem
várias soluções. Você tem de procurar quem são os novos atletas. Há um ano e
meio não tem atividade para as seleções juniores e juvenil. O último torneio
foi em agosto do ano passado. Neste período a gente só teve um grande treino
com jovens. Tem de procurar jogadores nos cadetes, nos juvenis e nos juniores.
A coisa mais certa era ajudar essas jovens a ir jogar na Europa. Um convênio
como o que já foi feito com o Hypo, da Áustria, por exemplo, seria muito
bom".
É A
CONFEDERAÇÃO QUE DEVERIA CUIDAR DISSO?
"Algumas
coisas sim, outras não. As atletas podem ir para a Europa por conta própria,
por exemplo, mas um convênio é a confederação que pode fazer, assim como o
trabalho de busca de talentos".
BRASIL,
FUTEBOL E A MÍDIA
"A
cultura no Brasil é que todo mundo sabe um pouco de futebol. Você vai no bar e
fala de futebol, vai na padaria e fala de futebol... Isso é legal, é
importante. Só que eu vejo muita gente também praticando algum esporte
diferente. O negócio é que na mídia só tem o futebol. Aqui na Dinamarca, por
exemplo, você tem de oito a dez jogos de handebol na TV por semana. E no
futebol, no Brasil, quando você vai ao estádio você não vê as pessoas. Como é o
país do futebol se nos EUA mais gente vai assistir aos jogos? Não me diga que
os EUA gostam mais de futebol que o Brasil.
-
Eu vejo que o futebol, culturalmente, tem um grande peso nas mídias e para a
população. Agora eu, como sou de outra modalidade, é claro que também gostaria
de ver mais. O povo brasileiro é muito grande e talentoso. Se você colocar um
brasileiro fazendo esqui, tenho certeza que ele vai ter sucesso. Agora, tem
muitos elementos aí. Aqui na Dinamarca, por exemplo, basquete e vôlei não têm
espaço porque o país não consegue produzir times bons de todos os
esportes".
Fonte: UOL Esporte