CBFS – SAGA DA SELEÇÃO DE FUTSAL

MATERIA ATUALIZADA ATÉ DIA 13 DE FEVEREIRO DE 2016 – SÁBADO – DIA MUNDIAL DO RÁDIO

CBFS – SAGA DA SELEÇÃO DE FUTSAL

CRISE NA CBFS, BOICOTES E TROCAS DE TÉCNICO: A SAGA BRASILEIRA ATÉ O MUNDIAL

- O gol de Neto na prorrogação da final da Copa do Mundo da Tailândia, em novembro de 2012, contra a Espanha, deu ao Brasil o seu sétimo título mundial e pôs fim ao último momento de estabilidade do futsal brasileiro. A partir de então, a modalidade começou a sofrer com seguidas crises, com direito a interrupção das atividades da seleção, duas trocas na presidência da CBFS, quatro mudanças na comissão técnica e até um boicote de jogadores inconformados com os desmandos no futsal brasileiro.

- Mesmo com todos os problemas, o Brasil vai em busca de mais um título mundial, em setembro, na Colômbia. Nesta sexta, a seleção confirmou a classificação para a Copa do Mundo ao derrotar o Uruguai na semifinal das Eliminatórias Sul-americanas, (assista aos gols da partida no vídeo acima) vitória que teve um misto de felicidade e alívio para os jogadores em função dos acontecimentos recentes. Neste sábado, o Brasil decide o título das Eliminatórias contra a Argentina, às 23h30 - o SporTV transmite ao vivo. Relembre a saga brasileira até a vaga para o Mundial:

A DEMISSÃO DE MARCOS SORATO

- A crise no futsal brasileiro teve início logo após o Mundial de 2012. A relação entre jogadores e Confederação Brasileira de Futsal (CBFS) se desgastou durante a disputa da Copa do Mundo da Tailândia, quando a entidade descumpriu compromissos com os atletas e obrigou os mesmos a se submeterem a medidas tidas como "ditatoriais", como a obrigatoriedade de usar calçados da fornecedora de material esportivo da seleção e a proibição do acesso à internet na concentração.

- Para aumentar ainda mais o desgaste, a CBFS resolveu mudar toda a comissão técnica na virada do ano mesmo com o título mundial. Saíram o supervisor Reinaldo Simões e o técnico Marcos Sorato. Para os seus lugares foram chamados Rudy Vieira e o treinador Ney Pereira, que estava sem dirigir uma equipe profissional havia três anos. O ex-craque Manoel Tobias foi contratado como auxiliar-técnico.

CRAQUES EM ROTA DE COLISÃO COM A CBFS

NETO

- A Era Ney Pereira começou tensa. Logo no primeiro compromisso da seleção sob novo comando, o amistoso contra a Venezuela em Cabo Frio, jogadores resolveram lavar roupa suja com a CBFS. Descontentes com a demissão da comissão técnica campeã mundial, um grupo de atletas liderado por Falcão, Neto e o goleiro Tiago pediu mais diálogo com os jogadores e respeito aos compromissos estabelecidos entre as partes. Diretor de seleções da CBFS à época e responsável pela contratação de Ney Pereira, Edson Domingues Nogueira não gostou do que ouviu e decidiu afastar as lideranças dos atletas das convocações seguintes.

- Tiago e Neto pararam de ser chamados após o título do Circuito Sul-americano, disputado em Uberlândia (MG). Falcão só teve a sua permanência garantida graças à interferência dos Correios, então patrocinador master da CBFS. Mesmo com toda a turbulência nos bastidores, a seleção conquistou o título do Grand Prix de Futsal, em outubro de 2013, em Maringá (PR), numa final decidida nos pênaltis diante da forte seleção da Rússia.

CAMISA 12 "SE APOSENTA" DA SELEÇÃO

FALCÃO

- O título do Grand Prix 2013 não foi suficiente para apaziguar os ânimos entre jogadores e dirigentes. O clima azedou de vez no início de 2014, quando a relação entre Falcão e Edson Domingues Nogueira se esgotou, e, em março, o camisa 12 resolveu anunciar que não jogaria mais pela seleção. A decisão de Falcão foi acompanhada pelos principais jogadores do país. Em seu discurso de "despedida", o camisa 12 lembrou de débitos não quitados com os atletas e classificou a gestão de Edson Nogueira na diretoria de seleções como uma verdadeira ditadura. Em quadra, o Brasil conquistou a medalha de ouro nos Jogos Sul-americanos com uma equipe com poucas estrelas.

futsal falcão brasil colômbia copa intercontinental (Foto: Luciano Bergamaschi / CBFS)

Falcão chegou a anunciar que não jogaria mais na seleção (Foto: Luciano Bergamaschi / CBFS)

- Vemos a cada ano que passa o futsal andar 20 anos para trás. Temos débito desde o ano passado, nós e o futsal feminino também, não recebemos nossos direitos desde julho, e ainda há várias situações de ameaça em convocação em 2012, algumas que a gente engoliu ao longo do tempo. Tenho orgulho da minha geração, num momento em que ninguém mais pensa em seleção brasileira, muito pelo contrário. Estamos fazendo isso pelo bem do esporte, que não pode ficar nas mãos de pessoas erradas, e pensando nas próximas gerações - afirmou Falcão na ocasião.

A QUEDA DE AÉCIO DE BORBA VASCONCELOS

AÉCIO e RENAN

- O movimento liderado por Falcão e pelas principais estrelas da seleção causou grande impacto na política do futsal e, consequentemente, na administração da CBFS. Em maio, os presidentes das federações estaduais reprovaram o balanço financeiro do então presidente Aécio de Borba Vasconcelos. Fundador da entidade, Aécio comandava a entidade desde a sua criação em 1979 sem nunca ter tido as suas contas contestadas. Após a reprovação do balanço, dirigentes acusaram Aécio de mau uso do dinheiro oriundo dos patrocinadores, e o GloboEsporte.com publicou reportagem denunciando nepotismo na Confederação.

- Aécio de Borba Vasconcelos renunciou ao cargo em junho de 2014 e em seu lugar assumiu o ex-vice-presidente de competições Renan Tavares, que não tinha a simpatia de algumas federações. Em meio ao turbilhão político, a CBFS perdeu seus patrocinadores, e a seleção ficou sem jogar durante o restante do semestre. Edson Domingues Nogueira deixou a Confederação em julho.

SAI NEY PEREIRA ENTRA SERGINHO

NEI PEREIRA

- Uma das primeiras medidas de Renan Tavares foi mudar a comissão técnica para tentar reconquistar a confiança dos jogadores. Em julho, Ney Pereira foi demitido, dando lugar a Serginho Schiochet, que levara o modesto Concórdia ao vice-campeonato da Liga Nacional de Futsal (LNF) no ano anterior. Renan aproveitou a mudança na comissão técnica para promover a volta de Reinaldo Simões à função de supervisor.  O retorno de Reinaldo foi determinante para a reaproximação com os principais jogadores.

- Serginho sempre foi uma referência quando era atleta da seleção. Como técnico despontou na equipe do Concórdia, quando chegou à final da Liga em 2013. Fizemos uma série de consultas com todos os envolvidos na modalidade e foi uma unanimidade a possibilidade de ele assumir a seleção, o que nos deixa satisfeito - afirmou Renan Tavares no momento da contratação de Serginho.

A VOLTA DAS ESTRELAS

- O segundo semestre de 2014 foi marcado pela volta das atividades da seleção com direito a recorde de público da modalidade. No dia 7 de setembro, o estádio Mané Garrincha recebeu 56 mil pessoas na vitória por 4 a 1 do Brasil sobre a Argentina em amistoso internacional. Foi a volta de Falcão ao selecionado canarinho. O goleiro Tiago também foi convocado e disputou o desafio, enquanto Neto acabou ficando fora por motivo de lesão.

- Em novembro, a seleção jogou mais um Grand Prix, dessa vez em São Bernardo do Campo (SP). E o Brasil ficou com o título ao derrotar a Colômbia por 7 a 2 no dia 16 de novembro, com direito a golaço de Falcão. Tanto no amistoso contra a Argentina quanto no Grand Prix, a seleção jogou com o patrocínio dos Correios estampado na camisa. A parceria, no entanto, foi apenas para os dois eventos, uma vez que a Confederação estava impedida de negociar contratos com estatais devido a reprovação do seu último balanço.

O FIM DA ERA RENAN TAVARES

RENAN

- A impossibilidade de captar patrocinadores e organizar novas competições para a seleção aumentou ainda mais a crise na CBFS, que chegou a perder o contrato até com a fornecedora de material esportivo. Ao chegar ao terceiro mês do ano sem perspectivas de melhoria na entidade, Renan Tavares decidiu não continuar no cargo e marcou novas eleições para março de 2015. Líder da oposição, o presidente da Federação Mineira de Futsal, Marcos Madeira, lançou-se candidato. Os jogadores, liderados por Falcão, também formaram uma chapa encabeçada pelo presidente da AABB e ex-atleta Nilton Romão, que desistiu do pleito após ver que a vitória de Madeira já estava virtualmente consolidada, devido a uma aliança com a situacionista Louise Bedé, oriunda da administração de Aécio de Borba Vasconcelos.

- Em meio a uma enxurrada de críticas, vindas especialmente do craque Falcão, Marcos Madeira foi eleito presidente da CBFS por aclamação no dia 31 de março de 2015. Participaram da eleição na sede da CBFS, em Fortaleza, todos os 27 presidentes das federações filiadas.  Além de Madeira, a chapa eleita contava com o ex-dirigente da CBF Weber Magalhães para a vice-presidência geral, Louise Bedê para a vice-presidência de competições, e Nei de Oliveira para a vice-presidência administrativa.

BOICOTE DE JOGADORES E PERÍODO SABÁTICO

PC OLIVEIRA

- A aproximação de Marcos Madeira com Louise Bedé e a impossibilidade do lançamento da candidatura de Nilton Romão à presidência da CBFS revoltou os principais jogadores do país, que resolveram anunciar um boicote coletivo à seleção brasileira, acompanhado por toda a comissão técnica, que pediu demissão em solidariedade aos atletas. Contando o período de inatividade por conta da crise financeira da CBFS com o boicote, o Brasil ficou 284 dias sem jogar.  Em meio a este turbilhão político, Falcão se aproximou de Marco Polo Del Nero, na tentativa de levar a gestão do futsal para a CBF, o que é permitido pelo estatuto da entidade máxima do futebol brasileiro. A ideia acabou não dando certo, uma vez que Weber Magalhães, utilizou de sua influência política para evitar a derrota da CBFS na batalha com os jogadores.

- Mesmo com o boicote dos atletas, Marcos Madeira anunciou PC Oliveira como técnico da seleção em maio de 2015. O treinador campeão mundial em 2008 não durou dois meses no cargo, sem sequer fazer uma convocação. Ao deixar a função, PC disparou contra as lideranças dos atletas.

-  O caminho é o diálogo entre as partes. Esse impasse já se tornou pessoal, e o esporte está sendo penalizado. Hoje, ridiculamente, não posso convocar a seleção, porque tenho que saber se o atleta está querendo ser convocado ou não - disse o técnico.

A TRÉGUA JOGADORES-CBFS

- Aos poucos, porém, o impasse entre CBFS e jogadores foi sendo resolvido com constantes encontros entre as partes. Num deles, os atletas pediram a volta de Serginho Schiochet e toda a comissão técnica que entregou o cargo no início do boicote. O pedido foi aceito, e, em julho de 2015, Serginho voltou ao comando da seleção. Em agosto, o Brasil finalmente voltou a jogar uma competição oficial, a Copa América, encerrando o "período sabático" de 284 dias. Machucado, Falcão não atuou no torneio. O time canarinho ficou com o terceiro lugar, depois de perder para a campeã Argentina na semifinal.

- Em setembro de 2015, o Brasil enfrentou Portugal, do craque Ricardinho, na Arena Castelão, em Fortaleza, na tentativa de quebrar o recorde de público do Brasil x Argentina do ano anterior. No entanto, apenas 11.444 espectadores assistiram à vitória brasileira sobre os portugueses por 2 a 1. No mês seguinte, foi a vez de a seleção disputar o Grand Prix, em Uberaba (MG) e conquistar o nono título do torneio com uma vitória sobre o Irã na decisão. Mesmo sem estar bem fisicamente, Falcão foi um dos destaques da competição.

FIM DA AGONIA E VAGA NO MUNDIAL

- Mesmo com a situação financeira da CBFS ainda complicada, o futsal brasileiro iniciou 2016 com novas perspectivas. Depois de uma pré-temporada em Foz do Iguaçu, com direito a goleadas sobre Uruguai e Paraguai em amistosos, o time comandado por Serginho Schiochet conquistou a vaga para a Copa do Mundo nesta sexta-feira após bater o Uruguai na semifinal das Eliminatórias, em Assunção. Devido aos problemas físicos enfrentados ao longo do ano de 2015, Falcão pediu dispensa da competição para realizar a pré-temporada junto à sua equipe, o Sorocaba.

- Neto, por sua vez, ficou de fora da convocação sem um motivo oficial. Em entrevista ao GloboEsporte.com, o fixo disse acreditar estar sendo vítima de uma retaliação da CBFS, já que ainda era jogador do Corinthians no momento da convocação, e o Timão, assim como o Orlândia, não cederam seus atletas para o Grand Prix de Uberaba. Fim da crise? Só os próximos meses dirão.

Fonte: globo.com