FUTSAL - MANOEL
TOBIAS
MANOEL TOBIAS É UMA LENDA DO FUTSAL BRASILEIRO
- Lendário camisa 5 do futsal, MANOEL TOBIAS integra
o rol dos maiores jogadores de todos os tempos.
- É natural de Salgueiro, sertão pernambucano, e atualmente mora em
Fortaleza, onde é dono de um projeto que vem dando oportunidades aos jovens
através do esporte há 12 anos.
- Durante a carreira de salonista, atuando como fixo, foi eleito três vezes o melhor do mundo, conquistou
dois mundiais com a seleção brasileira, faturou a Copa América em sete
ocasiões, terminou como artilheiro de duas Copas do Mundo e é detentor do
recorde de gols de uma única edição da Liga Nacional de Futsal (LNF). Em
entrevista à Folha de Pernambuco, ele, que completou 49 anos recentemente,
relembra a sua trajetória até se aposentar em 2007.
INFÂNCIA
- Tive a melhor infância possível. Meu pai quase foi jogador
profissional. Ele era do Recife, jogou até o sub-20 no Santa Cruz, onde era
quarto zagueiro. Não seguiu porque passou em um concurso para ser diretor de
uma escola do Estado e foi para Salgueiro, onde conheceu minha já falecida mãe,
que era professora. Depois disso, em 1971, veio o MANOEL
TOBIAS e na sequência mais nove irmãos. Tivemos uma educação muito boa.
Antigamente, não havia tanta vulnerabilidade, eu me divertia na rua, era uma
vida tranquila. Acredito que tenha jogado em todos os campos que você possa
imaginar que tinha naquela época em Salgueiro.
INÍCIO NO FUTSAL
- Tudo começou a ficar mais sério em 1984. Saímos lá do Sertão e fomos
morar no Cordeiro, no Recife. Lá, comecei a estudar na Escola Estadual Barros
Carvalho e tinha um professor chamado Valdir Pacheco de Araújo, o Dica, que
além de ser professor de educação física da escola, tinha uma equipe que jogava
o Pernambucano infantil. Me destaquei em uma aula e ele me chamou para jogar na
equipe dele, onde fomos vice-campeões pernambucano.
- Neste mesmo ano, fui convidado para jogar na Bandepe e as coisas
ficaram ainda mais sérias para mim no futsal. Minha categoria de base foi de 84
à 89. Com 16 anos eu jogava no sub-17 de campo e no adulto de futsal do
Náutico. Em 88, jogando um campeonato de seleções, representando Pernambuco em
Minas, fui contratado para jogar no Clube Candeias, de Curitiba. Passei o ano
de 89 lá, me desenvolvi profissionalmente e depois fui defender a Votorantim,
uma equipe que estava investindo pesado. Fui titular com 17 anos, convocado
jovem para a seleção e tudo fluiu na minha vida.
NOTA DA
REDAÇÃO - MARINGÁ
- MANOEL TOBIAS foi convocado pela primeira
vez, quando a Seleção Brasileira de Futsal ficou em Maringá, contratada pela PROMOVOL
EVENTOS, comandada pelo Dorival Volpato que alojou a seleção por 21 dias no
Bandeirantes Hotel de Maringá, fazendo refeições no Restaurante Brasão (do
amigo João Cano), realizando 13 jogos amistosos por cidades do Paraná (Maringá,
Paranavai, Campo Mourão, Terra Boa, Cianorte, Marumbi, Mandaguari, Apucarana,
Arapoti, Ponta Grossa, Wenceslau Braz, Foz do Iguaçú e São Miguel do Iguaçú),
treinando também no Ginásio de Esportes Chico Neto de Maringá.
RECORDE DE GOLS NA LNF
- Ser um recordista de gols numa liga nacional tão competitiva, onde tem
grandes talentos é um privilégio. Aquela edição de 99 foi muito difícil. Nós,
do Atlético/MG, tínhamos uma equipe muito forte, mas éramos apenas um dos
favoritos ao título. Fazer 52 gols em uma edição foi mágico. Sempre tive
consciência da representatividade desse feito, apesar do título ter sido mais importante.
Por onde passei, pude ser artilheiro e estamos falando desse marco depois de 21
anos. Foi legal ter feito isso em uma competição com grandes equipes.
PARCERIA COM FALCÃO
- Joguei poucos jogos com Falcão na época de seleção, somos de gerações
distintas e até por isso não o considero o melhor parceiro que tive nas
quadras. Os dois que me dei melhor jogando pelo Brasil foram Fininho e Vander
Iacovino, outros dois grandes craques da minha geração.
FUTEBOL DE CAMPO
- Em 95, eu estava na Enxuta. Por lá, fui campeão gaúcho, tinha sido
eleito o melhor jogador do Brasil. Porém, em 96 eles queriam baixar o nível de
investimento e os valores oferecidos foram abaixo.
- Sem eu saber, estava sendo monitorado pelo Grêmio para jogar no campo.
No primeiro contato disse que não queria. Não desejava sair da posição em que
eu estava. Mas, depois de 10 ou 15 dias de férias, quando eu estava pensando no
que iria fazer, Felipão me ligou dizendo que me queria lá e fez eu mudar de
decisão. Pedi uma quantia, achei que eles não topariam, mas aceitaram na hora.
- Fui com a consciência que seria difícil. Passei quatro meses, fiz
alguns jogos amistosos, participei de três partidas oficiais e fiz um gol. Tive
dificuldades, dores no joelho por conta da mudança de piso. Depois disso, o
Internacional me procurou, fez a mesma proposta que o Grêmio, mas para jogar no
futsal, e não pensei duas vezes.
- Aprendi muito no campo, e na volta às quadras fui artilheiro e campeão
da LNF com o Inter, campeão mundial com a seleção e fechei o ano por cima.
ARREPENDIMENTOS
- Sou muito feliz, pois todas as minhas atitudes foram tomadas
corretamente. Não me arrependo de nada. Sou um privilegiado como desportista,
da forma que iniciei no esporte até quando terminei. Meu início não foi
programado, e o final também não.
- Acredito que parei na hora certa, mesmo com 37 anos e podendo atuar um
ano ou dois. A família para mim sempre foi prioridade e já estava desgastada de
tanta mudança, de morar em cidades diferentes.
- Agradeço a Deus, pois tudo que fiz foi pensando de forma digna e dando
o melhor nas equipes que joguei, principalmente na seleção do meu País.
ESPELHO PARA OS JOVENS
- Tive a oportunidade de participar da Seleção como assistente do Ney
Pereira, entre 2013 e 2014. Além disso, fui técnico da seleção feminina e da
seleção sub-20 em parte deste período. Percebi vivenciando com os craques da
seleção nesta época que muitos falavam que se inspiravam em mim. Não tenho
dúvidas que meu legado é vitorioso em todos os aspectos.
APOSENTADORIA
- Depois que pendurei os tênis em 2007, eu tinha um propósito de
continuar trabalhando com esportes. Não como técnico, mas sim em ajudar de uma
forma administrativa.
- Há 12 anos, consegui uma parceria importante e hoje temos um projeto
chamado Manoel Tobias Futsal Sesc. Uma parceria com o Fecomércio do Ceará.
Temos 25 núcleos sociais espalhados em todo o Estado.
- Trabalhamos na inclusão esportiva e social de alunos/atletas de 8 a 17
anos. Sou o gestor de tudo isso, e precisei fazer faculdade e pós-graduação
para isso.
- É uma atividade que tem toda a minha atenção durante oito, dez horas
por dia. Sou grato por poder retribuir tudo aquilo que o futsal me concedeu.
Sou realizado de fazer isso hoje em Fortaleza, ao lado da minha esposa Cássia e
do meu filho Lucas, que são os meus melhores troféus. Grandes alunos que saíram
do projeto são jogadores profissionais de futsal hoje em dia.
LIÇÕES COM O CORONAVÍRUS
- Fomos pegos de surpresa. Aqui, o Ceará está muito afetado, mas sei que
Pernambuco também está, o que é preocupante. Vejo com tristeza como realmente
as coisas estão se desenhando.
- Países de primeiro mundo sofreram e aqui não seria diferente. Tento
sempre buscar informações com ex-companheiros de clubes para saber das cidades
deles. Sigo as recomendações dos órgãos de saúde e cada um tem que fazer sua
parte.
- Estamos tendo oportunidade para rever muitas coisas em nossas vidas.
Decisões, valores, estamos podendo ficar próximos das nossas famílias, das
pessoas que tínhamos uma relação distante.
- Essa doença está nos mostrando que nós não somos nada. O mundo parou
pelo vírus. Espero que a humanidade possa rever seus conceitos, prioridades,
porque precisamos uns dos outros.
Fonte: Folha de Pernambuco