O Dia Internacional de Combate à Discriminação Racial é celebrado em 21 de março, para reconhecer a batalha e as conquistas de direitos sociais para a população negra. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em memória ao Massacre de Sharpeville, que ocorreu na África do Sul em 1966 e deixou 69 vítimas fatais.
Segundo a Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, tratado adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, discriminação racial define-se por “toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto ou resultado anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício em um mesmo plano (em igualdade de condição) de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública”.
No Brasil, a luta contra a discriminação racial se intensificou após a Constituição Federal de 1988, que incluiu o crime de racismo como inafiançável e imprescritível. Contudo, por ser um avanço recente, o racismo ainda exige políticas de inclusão mais eficazes, além do cumprimento efetivo da legislação para coibir tais práticas e proteger a sociedade como um todo.
O preconceito resulta em problemas que vão além da cor de pele, dificultando o acesso dessas pessoas à saúde, ao mercado de trabalho e a condições dignas de vida. Por isso, a Fiotec tem nos seus valores o respeito à dignidade humana e à diversidade dos indivíduos, acolhendo e reconhecendo a importância da luta antirracista.
Conheça expressões que devem ser abolidas de seu vocabulário
Ainda que não intencional, algumas expressões enraizadas na sociedade brasileira têm viés racista, como:
- “Cor de pele”
Aprende-se desde criança que a cor bege é “cor de pele”, entretanto, é evidente que ela não representa a pele de todas as pessoas.
- “Doméstica”
Negros eram tratados como animais rebeldes que precisavam de “corretivos”, ou seja, serem “domesticados”.
- “A dar com pau”
A expressão é originada nos navios negreiros, em que muito dos capturados preferiam morrer a serem escravizados e faziam greve de fome na travessia entre os continentes. Para obrigá-los a se alimentar, um “pau de comer” foi criado para forçar as comidas pela boca.
- “Meia tigela”
Os negros que trabalhavam à força nas minas de ouro nem sempre conseguiam alcançar suas “metas”. Quando isso acontecia, recebiam como punição apenas metade da tigela de comida e ganhavam o apelido de “meia tigela”, que hoje significa algo sem valor e medíocre.
- “Mulata”
Na língua espanhola, referia-se ao filhote macho do cruzamento de cavalo com jumenta ou de jumento com égua. A enorme carga pejorativa é ainda maior quando se diz “mulata tipo exportação”, reiterando a visão do corpo da mulher negra como mercadoria. A palavra remete à ideia de sedução, sensualidade.
- “Cor do pecado”
Utilizada como elogio, se associa ao imaginário da mulher negra sexualizada. A ideia de pecado também é ainda mais negativa em uma sociedade pautada na religião, como a brasileira.
- “Ter um pé na cozinha”
Forma racista de falar de uma pessoa com origem negra. Teve início no período da escravidão, em que o único lugar permitido às mulheres negras era a cozinha da casa grande.
- “Moreno(a)”
Racistas acreditam que chamar alguém de negro é ofensivo. Falar de outra forma, como “morena” ou “mulata”, embranquecendo a pessoa, “amenizaria” o “incômodo”.
- “Negro(a) de traços finos”
A mesma lógica do clareamento se aplica à “beleza exótica”, tratando o que está fora da estética branca e europeia como incomum.
- “Cabelo ruim”
Fios “rebeldes”, “cabelo duro”, “carapinha”, “mafuá”, “piaçava” e outros tantos derivados depreciam o cabelo afro. Por vários séculos, causaram a negação do próprio corpo e a baixa autoestima entre as mulheres negras sem o “desejado” cabelo liso.
- “Não sou tuas negas”
A mulher negra como “qualquer uma” ou “de todo mundo” indica a forma como a sociedade a percebe: alguém com quem se pode fazer tudo. Escravas negras eram literalmente propriedade dos homens brancos e utilizadas para satisfazer desejos sexuais, em um tempo no qual assédios e estupros eram ainda mais recorrentes. Portanto, além de profundamente racista, o termo é carregado de machismo.
- “Denegrir”
Sinônimo de difamar, possui na raiz o significado de “tornar negro”, como algo maldoso e ofensivo, “manchando” uma reputação antes “limpa”.
- “A coisa tá preta”
A fala racista se reflete na associação entre “preto” e uma situação desconfortável, desagradável, difícil, perigosa.
- “Serviço de preto”
Mais uma vez a palavra preto aparece como algo ruim. Desta vez, representa uma tarefa malfeita, realizada de forma errada, em uma associação racista ao trabalho que seria realizado pelo negro.
- “Mercado negro”, “magia negra”, “lista negra” e “ovelha negra”
Entre outras inúmeras expressões em que a palavra ‘negro’ representa algo pejorativo, prejudicial, ilegal.